A MENINA SOMBRINHA E O SENHOR GUARDA-CHUVA
(a história de uma casa do tempo na
Floresta Negra e dos seus dois habitantes)
A menina sombrinha passava o tempo a
tratar das flores que tinha no parapeito da sua janela, ou a olhar o jardim
onde cresciam rosas coloridas como um arco-íris. Cravos; miosótis; jasmins
perfumados e outras flores de que não me lembra o nome. Com a sua sombrinha de
renda branca, protegia o seu rosto alvo dos raios de Sol. As suas lindas faces
rosadas eram como beijinhos que o astro dourado tocava na sua pele. Ela só saía
à rua em dias claros e quentes mas tinha pena do seu vizinho que vivia a seu
lado. Era era precisamente o contrário! Não gostava nada de sair em dias de
Sol. Era o senhor guarda-chuva sempre sombrio, vivia isolado e com cara de
poucos amigos. Vestia um fato preto com risquinhas brancas e um lacinho
impecavelmente dobrado a contornar a sua camisa branca. Nunca saía para passear
sem o seu inconfundível guarda-chuva preto, evitando molhar-se e passava grande
parte do tempo à janela a espreitar as nuvens que passeavam pelo céu. Depois,
fazia planos qual seria a melhor oportunidade para se fazer notar. Convenhamos,
era um pouco vaidoso na maneira de vestir e aproveitava sempre para
cumprimentar a sua vizinha com um sonoro: - Bom Diaaa… menina sombrinha! Nessa
altura, a menina já se recolhia à sua pequenina habitação, falando sozinha com
o seu coração.
- Que
antipático o Senhor Guarda-chuva! Passa a vida a desejar chuva, vento forte
para estragar as minhas queridas flores, deitar ao chão os vasos de orquídeas,
destruir as pétalas das minhas perfumadas rosas. Hum! Não passa de um
convencido a mostrar aos outros que o seu guarda-chuva é o mais encantador do
mundo. Detesto, detesto o Senhor Guarda-chuva!
Ora certo
dia, lá pelos fins do verão, o seu vizinho deu conta que o jardim da menina
sombrinha estava a secar. As flores bonitas e perfumadas apareciam caídas e com
uma cor castanha amarelada. As suas rosas não passavam de espetos com espinhos,
os cravos perderam a cor vermelha e os seus jasmins tombados sob a terra
pareciam rogar que as ajudassem no seu suplício. Enchendo-se de coragem e ao
final da tardinha, quando o céu ficava já sem brilho, e as estrelas corriam uma
atrás das outras para ver quem brilhava mais, foi bater de mansinho à sua porta.
- Menina
sombrinha? Menina sombrinha? Do outro lado, a vizinha respondeu:
- Quem é?
Quem me chama?
- Sou eu o
seu vizinho Senhor Guarda-chuva! Por favor, abra que lhe quero falar!…
Ela andou de
um lado para outro, atrapalhada como se o momento fosse inoportuno, resmungando
consigo mesma:
- Francamente
Senhor Guarda-chuva! Que ideia essa de me vir falar a uma hora destas? E agora
que faço eu? Dizia em voz baixinha. Abro!... Não abro!... É mesmo intratável…
Mas por fim, após tantas idas e recuos, resolveu abrir a porta.
- Que quer
vizinho?
- Ora,
menina sombrinha queria ajudá-la com o seu jardim. Reparei da janela da minha
casa que está tudo a ficar seco. As flores estão queimadas e as plantas
suplicam água. Poderia fazer com que durante a noite, caísse umas gotinhas de
água nas suas plantas. Iriam ficar de novo coloridas, os campos,
floridos e perfumados, tão a seu gosto. O que acha da minha ideia?
Ela ficou
sem fala! Pensou, pensou, e de tanto pensar a sua cabecinha parecia o catavento
que estava no cimo do telhado da casa, quando bate os ventos fortes e as
tempestades. No seu coração, algo lhe dizia que afinal o seu vizinho não era
tão má pessoa, como realmente julgava. Até teria boas intenções dando um pouco
da sua chuva pelos campos, serras e lagos.
Decidiu
aceitar a ajuda do Senhor Guarda-chuva.
Logo nessa
noite, uma chuva miudinha, caiu dos céus e pela manhã ao primeiro raiar do dia.
Então da janela da sua casa, viu que as gotinhas de água tinham feito um
verdadeiro milagre. O seu jardim estava de novo encantador, as plantas sorriam
ao vento espalhando o seu perfume e os seus vasos da janela, pareciam querer
beijá-la de agradecimento. Ao lado, o senhor de olhar severo e com cara de
poucos amigos, espreitava.
Que
encantadora é aquela menina sempre sorrindo e cantando, como se o mundo fosse
só felicidade. Então, passou-lhe uma coisa pela cabeça e decidiu cumprimentá-la
precisamente na hora em que ela dançava à volta das suas rosas.
- Muito bom
dia, menina! Vejo que a minha chuva foi benéfica para as belas flores do seu
jardim!
Ela sorriu,
um sorriso meio envergonhado e agradeceu inclinando levemente a sua cabeça.
Obrigada! Fico
muito agradecida pelo seu gesto. Realmente, hoje estão com outra vida,
renasceram de novo. Inclinou a sua alva sombrinha de renda resguardando o seu
rosto.
O vizinho
propôs darem um passeio pelo campo, mas ela arranjou mil e uma desculpas que
não podia viver sem o seu chapéu de estimação e que eram incompatíveis. Quando um
estava à janela, o outro não poderia estar
na outra ao mesmo tempo. O que
iriam as pessoas pensarem?
Então ele
teve a ideia de lhe propor - Por que não, deixar em casa a sua sombrinha e eu,
o meu guarda-chuva?
Poderíamos ambos
usar um chapéu… ninguém iria reparar qual o tempo que iria fazer!
Ela achou
boa ideia e ambos foram dar um passeio pelos campos. Ela, com um chapéu de
palha coberto de margaridas. Ele com um chapéu alto próprio do seu estatuto de
vaidoso.
Segundo se
consta, parece que ele lhe pediu em casamento e ambos são vistos muitas vezes
juntos na sua linda casinha de madeira.
Não sei se
já repararam naqueles relógios de cuco. É precisamente numa casa rodeada de um
lindo jardim que ainda hoje podemos ver a menina, perdão a senhora sombrinha em
dias de bom tempo e o Senhor guarda- chuva nos dias em que vai chover. De resto
parecem continuar a viver felizes como nunca! Espreitem, por favor!
CAM